terça-feira, 16 de agosto de 2016

MANUAIS

Graças às televendas e ao comércio via-Internet não é mais preciso sair de casa para comprar-se um aparelho eletrodoméstico, fotográfico ou de informática.
Se você tiver sorte a sua compra chega dentro daquele prazo de cinco dias úteis durante os quais você ficou esperando ansiosamente pelo motoboy ou pelo caminhão de entregas sem sair de casa nem para comprar pão na esquina.
Chegou o aparelho? Então saiba que nesse instante a sua sorte acabou e que a sua paciência começará a ser testada, já que abrir a embalagem e retirar a compra de dentro daquele sarcófago de isopor é tarefa que nem Jó conseguiria levar a cabo sem xingar a mãe do fabricante. Você conseguiu? Então saiba que agora não é mais a sua paciência que estará à prova. É a sua inteligência!
Prepare-se para entender a linguagem cifrada que o sádico fabricante utilizou para redigir as instruções de montagem do produto. Como você não domina o jargão ali empregado, dificilmente conseguirá juntar as peças e conectar os pinos no lugar certo, e não adianta olhar para as figuras porque elas raramente correspondem ao modelo que você comprou. 
Mas digamos que você seja paciente e habilidoso, encaixe tudo onde achar mais fácil e ligue o fio preto à corrente elétrica da casa. O suspense nessa hora é digno de um filme de Hitchcock: sucesso ou explosão.
Oba, não explodiu? Então parta para as instruções de operação e arme-se para a batalha decisiva dessa guerra. Abra o manual no capítulo “Como fazer” e tente a mais simples das operações, possivelmente a única que lhe interessa, como bater um bolo, falar ao telefone, escutar um CD ou imprimir uma carta que está escrita há dias no seu computador. Aí você ficará sabendo que a instrução desejada nem consta do manual. Ela é tão óbvia que nem seu filho (ou neto) de quatro anos precisaria dela. Ainda assim, você tentará o item que lhe parece mais adequado e verá que a instrução começa com um odioso “Você Pode”. Exemplos: Você pode bater um bolo esquentando ao mesmo tempo a tigela; Você pode falar concomitantemente com até dez pessoas pelo seu celular; Você pode escutar o CD eliminando a voz do cantor; Você pode imprimir um arquivo enquanto joga paciência no seu computador...
É claro que nada disso lhe interessa, mas se o fabricante incluiu tais recursos é porque há gente que não viveria sem eles ou porque eles encarecem o produto, aumentam o lucro da indústria e tornam tudo obsoleto em pouco tempo.
— O quê? — perguntará um amigo. — O seu celular só serve p’ra falar e escutar? O meu gela a cerveja na praia.
— Mas eu nem bebo cerveja...
Já outro amigo fará pouco caso da sua impressora:
— Esta porcaria só imprime? A minha escaneia, tira cópia colorida, tem entrada pro cartão da câmera digital e ainda frita ovo.

Aí você espera que o amigo saia, pega o Manual e procura atualizar-se com a tecnologia a fim de não passar mais vergonha. Vai ao capítulo “Como fazer” e procura o macete para fritar um ovo na sua impressora, mas vai desistir porque a instrução fatalmente começa assim: Você pode fritar ovo e gelar a sua cerveja ao mesmo tempo... 

COISAS DE MULHER

Dizia um amigo, misógino ou extremamente machista, que — diferentemente de cães e cadelas, touros e vacas, carneiros e ovelhas — homens e mulheres, apesar de poder cruzar, deviam pertencer a gêneros e espécies diferentes. Ele sugeria até denominações científicas: Homo sapiens e Femina insapiens.
       A ideia não se baseava nas características físicas secundárias inerentes a cada sexo mas nos hábitos e gostos, que são diametralmente opostos. Sem assumir qualquer responsabilidade sobre a sua divulgação, transcrevo alguns que ele considerava indiscutivelmente exclusivos das mulheres, pelo menos das que conhecia e eventualmente detestava:

- tomar táxi em ponto de ônibus;
- não dar gorjeta a taxista;
- confiar em dedetização com massa;
- desconfiar de bombeiro hidráulico;
- encher o banheiro de frascos, potes e sprays;
- mandar pintar a casa com tinta “preparada” e depois reprovar;
- pagar operário 6ª-feira à noite com cheque nominal e cruzado;
- demorar-se em caixa automática falando ao celular, contando o dinheiro, guardando o cartão numa carteira e o saque noutra;
- mandar trocar segredo de fechadura;
- escolher puxador de armário em loja cheia;
- começar um papo com “Estive pensando...”;
- olhar para cima quando vai mentir;
- tomar café-com-leite ou chá em caneca;
- reclamar de empregada doméstica e/ou de diarista;
- ao precisar de um favor, perguntar ”Você não quer fazer isso p’ra mim?” Tipo: (1) trocar um pneu na Av. Brasil em noite de chuva ou (2) servir de fiador do apartamento que está por alugar...
- pôr o isqueiro dentro do maço de cigarros;
- pôr fósforo riscado dentro da caixa;
- carregar agenda bem pesada e inútil;
- entrar em botequim só p’ra trocar dinheiro;
- desdenhar o que está no cardápio do restaurante;
- comer rúcula, tomate seco, ricota e granola;
- fazer questão de vinagre balsâmico;
- fazer questão de vinagre balsâmico;
- provar roupa na loja, desaprovar em casa e trocar;
- apelar para o Código de Defesa do Consumidor;
- dizer “ai-ai” depois de rir;
- dizer “eu não mereço” antes de chorar;
- chorar; chorar à toa;
- olhar para o alto antes de mentir;
- morder os lábios depois de mentir;
- apossar-se do controle remoto da TV;
- ver novela e dizer que detesta novela;
- ler livros de auto-ajuda;
- acreditar neles e recomendá-los;
- dizer que gosta de Fernando Pessoa.;
- acusar o marido de mijar fora do vaso;

- instalar o rolo de papel higiênico ao contrário.